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Adriana Karkow sempre disse que sua trajetória se assemelha mais a um rio do que a uma estrada. Rios não pedem licença: escavam margens, contornam obstáculos, saltam pedras, dobram onde a terra parece intransponível. E foi assim, em curso sinuoso, que ela saiu de uma infância marcada por silêncio e medo até desaguar, já adulta, em duas aprovações que transformariam não apenas a sua história, mas também a de toda a sua família.
Nascida no interior do Rio de Janeiro, Adriana cresceu numa cidade suficientemente grande para ter semáforos, mas ainda pequena o bastante para o pão chegar quente à porta de casa às seis da manhã. Filha de pais separados, foi criada por uma mãe com o ensino médio incompleto e por um padrasto austero. Conviveu com a escassez — de dinheiro, claro, mas, sobretudo, de referências. Deduziu que estudar “demais” era luxo e que lhe bastaria um diploma simples e disposição para o trabalho. O golpe mais duro, no entanto, não foi a pobreza, foram os abusos que sofreu e guardou em silêncio. O corpo seguiu crescendo; a voz calou.
Na adolescência, os cadernos se tornaram depósito da raiva contida. O tempo foi levando junto o interesse pelos estudos e deixando no lugar uma rotina de fuga disfarçada de liberdade: salas de aula trocadas por barzinhos, provas bimestrais feitas na cara e na coragem, tardes de papo jogado fora pelo campus da faculdade de Direito… Até que ela largou o curso sem olhar para trás, fazendo de conta que era escolha. Aos dezoito, saiu de casa. Alugou um quarto, começou a vender roupas em loja de esquina e se convenceu de que sonhar era privilégio reservado a quem nascera na margem certa do rio.
Demorou até que a correnteza mudasse. Um relacionamento abusivo quase a convenceu de que aquele seria seu leito definitivo. Quase. Após a separação, conheceu o homem que viria a ser parceiro de todas as vigílias de estudo. Policial penal e universitário, ele falava em concurso público e estabilidade. Foi então que Adriana ousou imaginar um novo rumo.
Aos 24 anos, ingressou em Odontologia. Trabalhava muito, dormia pouco, amamentava a primogênita, Helen. Quando o marido chegou em casa com o jornal aberto no caderno de concursos — “Polícia Penal do Rio de Janeiro. Salário: R$ 3.200,00 —, ela visualizou um tronco boiando, tábua de salvação para quem se afoga. Inscreveu-se mesmo sem saber como conciliaria mais uma tarefa no dia. Estudava entre trocas de fralda, plantões de vendedora e aulas de anatomia dentária. Foi aprovada. Tomou posse em fevereiro de 2013, colou grau dez meses depois e passou a dividir-se entre o consultório pela manhã, setores administrativos da penitenciária à tarde e a clínica prisional à noite.
Por um tempo, pareceu funcionar. Mas a conta, de novo, não fechava. Veio o segundo filho, depois a terceira. Adriana tentou montar um pequeno negócio de marcenaria, que afundou em dívidas. Em 2020, além da pandemia, encarou a humilhação de ter de suspender o plano de saúde das crianças. “Superendividamento” era a palavra que inquietava e que fez Adriana enxergar no edital da Polícia Rodoviária Federal (PRF) uma possível rota de fuga.
O problema? Faltava fôlego. Os estudos recomeçaram a cinco semanas da publicação do edital. Quando o documento saiu, em janeiro, trouxe uma surpresa: nada de História Institucional — no lugar, Inglês. Adriana não sabia conjugar verbos modais, mas lidava bem com o tema urgência. Deixou o consultório, e a renda caiu. O marido assumiu plantões extras, e o tempo com a família minguou. A mulher estudava com a caçula no colo, muitas vezes em pé para evitar que a pequena pedisse o peito. Contava com o apoio da mãe, que aparecia uma vez por semana para cuidar da casa enquanto Adriana se trancava no quarto com as videoaulas do Gran e um tablet apoiado numa pilha de fraldas. Era ali que ela recitava artigos da legislação rodoviária ao som da panela de pressão.

Estudando do jeito que dava, com uma das filhas sempre grudada.
Quando o resultado saiu, Adriana chorou baixinho. O novo salário quitou dívidas antigas, e a janta voltou a ter sobremesa. Mas o corpo, enfim, cobrou o preço: o uniforme pesado e o cinto de segurança por horas dentro de uma viatura na BR lhe renderam uma hérnia de disco, bursite e um nervo ciático inflamado. Em uma das crises, foram dois dias sem conseguir andar. A tentativa de migrar para uma função administrativa na PRF virou uma dança de cadeiras em que nunca chegava sua vez.

Assinando o termo de posse na PRF.
Nesse hiato, surgiu o Concurso Nacional Unificado (CNU). O cargo de Auditor-Fiscal do Trabalho chamou atenção primeiro pelo salário, depois pelo fato de não cobrar matemática nem contabilidade. Adriana contou as disciplinas de humanas, lembrou que legislação sanitária lhe era familiar e decidiu: “É meu próximo leito.”
Desta vez, começou a preparação após o lançamento do edital. Os plantões de 24 horas na PRF não permitiam estudo; as folgas, sim: do fim da tarde até a madrugada, com pausas para o jantar, o banho das crianças e alongamentos. Às vezes, estudava deitada ou sentada sobre almofadas; outras, de pé. A prova foi aplicada em agosto; a lista de aprovados, divulgada só em fevereiro do ano seguinte. Antes mesmo do resultado, Adriana alugou um apartamento em Brasília para o curso de formação. Encenou a própria aprovação até que ela virasse fato.

Fundo do computador como um mural dos sonhos.
E virou. No PDF que custou a abrir na página do Diário Oficial, seu nome ocupava a décima segunda posição, com convocação logo na primeira turma. Primeiro o choque, depois o alívio, que enfim fez cessar a dor. A nomeação deve sair em breve e provavelmente exigirá nova mudança de estado. Adriana ainda não pensa nisso; prefere guardar energia para a próxima curva do rio.

Durante os estudos para AFT, Adriana precisou fazer diversas intervenções para lidar com as dores crônicas.
Quando alguém lhe pergunta qual é o segredo, ela diz que não se trata de fórmula, mas de escolha: ou você para diante das pedras, ou aprende a contorná-las. Ela escolheu contorná-las. Optou por levantar-se a cada manhã, mesmo depois de mais uma noite de dor. Optou por estudar de pé, se fosse preciso. Optou por não parar nem enquanto amamentava, e mesmo ouvindo que já era tarde demais para sonhar.
Hoje, quando fecha os olhos, vê duas imagens sobrepostas: a menina que acreditava não ser digna de um bom futuro e a mulher que, com farda, estetoscópio, tablet ou analgésico, abriu o próprio curso d’água. Entre uma e outra há todo um leito escavado à base de coragem, esforço e páginas de lei. É por isso que, quando lhe pedem um conselho, Adriana devolve um convite:
“Encare como fase. Os dias maus passam. Faça o que precisa ser feito, sobretudo neles.”
Rios não pedem licença. Eles simplesmente fluem. E Adriana segue fluindo — rumo a um oceano que, por muito tempo, ela nem fazia ideia de que estava lá.
Assista aqui a reação emocionante de Adriana ao descobrir sua aprovação final para AFT.
Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha de perto o universo dos concursos desde muito cedo. Ingressou nele, profissionalmente, aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanalmente para o blog do Gran. Formou-se em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Em 2021, foi incluído na prestigiada lista da Forbes Under 30. Autor de 4 livros que figuraram entre os best-seller da Amazon Kindle.
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Fonte: Gran Cursos Online