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Trinta e quatro anos João Luís Borsoi Filho viveu de sementes. Quatorze em laboratórios de melhoramento genético, vinte no campo, a vida inteira calibrando o olhar para distinguir, entre milhares de espigas, aquela que carregava futuro. Até que, numa segunda-feira qualquer de balanço financeiro, a multinacional fechou o portão e decretou: ciclo encerrado. De volta ao asfalto impiedoso de Brasília, o agrônomo descobriu que o solo sob seus pés não aceitava mais enxada nem prancheta – exigia metamorfose completa.
A primeira tentativa foi como a de qualquer náufrago: agarrar-se ao primeiro galho que aparece. Jurou que passaria “rapidinho” em algum concurso público. A primeira prova destroçou essa ilusão: direito constitucional não dá em lavoura. Reprovação seca, seguida de outras tantas, cada uma mais amarga que a anterior. Foi aí que compreendeu uma verdade brutal: terreno novo não apenas pede adubo novo – exige que você aceite virar semente novamente.
Aos 57 anos, quando muitos já contam os dias para a aposentadoria, João se matriculou em Gestão Financeira. Queria erguer outro alicerce de conhecimento e, simultaneamente, domar o orçamento doméstico que encolhia impiedosamente a cada mês sem salário. Enquanto colegas da metade de sua idade discutiam fluxo de caixa nos corredores da faculdade, ele administrava o próprio com precisão cirúrgica: vendeu o carro, trocou restaurantes pela plataforma do Gran, aprendeu que disciplina também se mede em cada real poupado no supermercado.
Entre planilhas de Excel e picos de ansiedade, conseguiu um cargo comissionado no Ministério da Infraestrutura – trinta meses de trabalho extenuante que lhe devolveram rotina e dignidade, mas não segurança. Porque concurso continuava chamando como um fantasma insistente, e ele respondia com noites de videoaulas, café requentado e exercícios repetidos até o cansaço não permitir mais.
Vieram crises financeiras que quase o deixaram insolvente. Vieram as culpas corrosivas por esticar o sonho sobre o orçamento familiar já apertado. Esposa e filhas seguravam as pontas, emprestavam paciência quando ela já escasseava, às vezes até dinheiro. João, porém, repetia como um mantra: “a semente só morre quando você para de regar”.
Quando o edital do Concurso Nacional Unificado apareceu, ele já havia aprendido uma lição fundamental: chutar alternativa é como semear ao acaso – pode até brotar alguma coisa, mas raramente alimenta uma família. Reviu cada lei como quem examina grãos no microscópio, gabaritou exercícios com a obsessão de quem escarifica sementes resistentes. Em 5 de maio de 2024, o Diário Oficial estampou seu nome – Analista Técnico-Administrativo da Advocacia-Geral da União, 60 anos recém-completos, coração disparado.
Mas a verdadeira vitória não foi o carimbo da aprovação. Foi o processo brutal de 2022 a 2024, aquele período em que aprendeu a podar a autocobrança destrutiva, calibrar expectativas sem desistir dos sonhos, trocar o medo paralisante por método implacável. A plantação mental mudou completamente: onde antes crescia dúvida, floresceu estratégia; onde havia pressa desesperada, nasceu paciência longa – igual germinação de cultivar verdadeiramente resistente.
Hoje João usa o crachá como quem finalmente viu chegar a chuva depois de anos de seca: sem euforia descontrolada, mas com a certeza profunda de que o solo vai responder. Pensa em mestrado, em ciência de dados, em investimentos conscientes para o futuro. Pensa em compartilhar sua experiência de resiliência com quem ainda está na fase do solo pedregoso. Mas, principalmente, pensa em viver intensamente o tempo que lhe resta: cinema de domingo com pipoca cara sem culpa, visitas demoradas a quem ama, um Uber até o clube só para nadar três voltas completamente livres de preocupação.
Se você está lendo estas linhas de dentro de um vale escuro – contas vencendo, sonhos parecendo impossíveis – lembre-se do agrônomo que colheu estabilidade depois dos sessenta. Ele te diria que toda colheita real começa quando você aceita replantar a si mesmo por completo: novo curso, nova rotina, novo jeito de encarar o mundo. Ele te diria também que não existe solo verdadeiramente infértil para quem não tem pressa de florescer.
Afinal, como João descobriu na própria pele, algumas sementes só despertam quando o relógio da vida alcança o ponto exato da umidade e da luz. E persistir não é teimosia cega – é ciência pura do tempo. Tempo que não se compra em loja alguma, mas se cultiva religiosamente, dia após dia, até que a página do Diário Oficial se transforme no primeiro capítulo de uma safra completamente nova.
A vida, João aprendeu, não tem pressa. Mas também não tem piedade de quem desiste de plantar.
João foi aluno do Gran e ilustra como, aqui, aprovamos gente real, com histórias reais e das mais diversas origens. Tenha certeza: o próximo nomeado pode ser você. O edital do CNU 2025 acabou de sair, então aproveite e estude com quem vivencia de verdade, todos os dias, o lema em que acredita: todo mundo pode.

João Borsoi no evento de posse como Analista da AGU (concurso CNU 2024)
Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha de perto o universo dos concursos desde muito cedo. Ingressou nele, profissionalmente, aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanalmente para o blog do Gran. Formou-se em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Em 2021, foi incluído na prestigiada lista da Forbes Under 30. Autor de 4 livros que figuraram entre os best-seller da Amazon Kindle.
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Fonte: Gran Cursos Online